Cinema e Leitura

|julho 9, 2019 |

CINEMA E LEITURA

Quando a linguagem do cinema tem casos de amor com a literatura, sem dúvida alguma produz efeitos estéticos e impactos sensoriais notáveis dentro de nós.

Nestes tempos acelerados, onde a palavra “imersão” passou a navegar no mundo das  startups e hubs, funcionando como ferramenta aplicada aos empreendedores que, juntos e misturados numa sala de situação, ativam as mentes focadas na descoberta de soluções incríveis para o mercado. Nestes tempos assim, recordo algo que há muito me atinge este volver a la mi vida, desde os 14 anos, quando meu pai chegou a casa com uma carteira de acesso permanente ao cinema.

De lá pra cá, portanto há mais de 40 anos, vejo o cinema como imersão estética  e espécie de ultimo ritual do século. É para lá sempre vou quando desejo ou preciso encantar-me, chorar-me, derreter-me, sair-me ou simplesmente, passar-me [o tempo].

Anote aí. Se você sai de casa, anda pela cidade – com sol ou chuva – e  senta no escuro da grande sala de cinema; se você come pipoca, compartilha burburinhos e ruídos e mira de soslaio a quem está do lado; se você sente um friozinho no estomago [aliás, leitor: assista o filme brasileiro chamado Estômago, uma pancada], quando afinal, toca aquele som retro para começar a projeção….ah…pode ter certeza que você está fazendo uma imersão ritual.

Elegi por tudo isso, uma série histórica que pode levar o leitor a perspectivas enriquecedoras. O critério da seleção não partiu da critica especializada, mas da minha orientação antropológica sobre o que pode ser um convite a uma pequena etnografia do cinema onde a leitura constitui o tema transversal.  Da minha parte, retorno a assisti-los, sempre em busca de navegações não precisas, porque afinal, navegar é preciso, viver, não. Espero que aprecie.

2019 O menino que descobriu o vento (autobiografia)
2018 A sociedade literária e a torta da casca de batata (romance histórico)
2017 A livraria (romance)
2016 O mestre dos gênios (biografia)
2000 Encontrando Forrester (roteiro)
1994 O carteiro e o poeta (romance)
1994 Um sonho de liberdade (novela)
1990 Cyrano de Bergerac (peça de teatro)
1989 A sociedade dos poetas mortos (peça de teatro)
1986 O nome da rosa (romance)

Se o leitor adotar esta série de filmes como uma trilha de conhecimento, recomendo iniciar por  Cyrano de Bergerac. Lançado em 1990 na língua francesa, teve uma primeira versão em língua inglesa em 1950. Vale ver as duas, pois que os idiomas atuam em cada película. E por que Cyrano de Bergerac?  Porque o poeta brasileiro Afonso Romano de Sant Anna, assim escreveu em 2006:

“Em geral, não se sabe que o mais notável ator francês da atualidade foi um menino favelado. E o que ele fala sobre o papel da leitura no resgate de sua vida é significativo. No “La Nación” de Buenos Aires (20.11.1999) uma ilustrativa reportagem lembra o personagem, que Depardieu encarnou, e que era um tipo que possuía as palavras mais maravilhosas, mas que não podia expressá-las à sua amada, atemorizado que ela o rejeitasse por ter aquele enorme nariz. Depardieu conta então que sofreu também uma impotência similar a do seu personagem:

`Eu não tinha vocabulário e isto bloqueava todas minhas emoções. Mas tive a sorte de ler e depois de crer no que lia. Quando li pela primeira vez “Madame, eu a amo”, logo pude dizê-lo, me senti muito importante. É que sou um menino de favela, ainda que tenha nascido num país do Primeiro Mundo, porque em todos os lados há favelas. E que têm as favelas? O rap, o futebol e a tevê. Por sorte, o cinema me salvou da incomunicação, e os personagens históricos me deram uma carga cultural a qual nunca pude aceder porque não fui suficientemente à escola` ”. Gerard Depardieu. In: SANT’ANNA, Afonso Romano. A Letra e a Anomia Pós-moderna, 2006, p. 6-7. http://www.gargantadaserpente.com/artigos

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